"Hmm… Leonardo…"
A voz sensual vinda de trás da porta firmemente fechada congelou a mão de Helena Almeida no meio da batida. Um arrepio percorreu sua espinha, como se ela tivesse sido encharcada em água gelada. Por anos de casamento, ela e seu marido, Leonardo Almeida, nunca tiveram intimidade. Mas agora, ouvindo a voz de dentro, ela sabia muito bem o que estava acontecendo.
Sua respiração falhou, a incredulidade arranhando seu peito. Leonardo... ele não faria... não, ele não podia. Quando se casaram, Leonardo confessou que tinha um problema de saúde. Então, ela se recusava a acreditar. Mas quando gemidos masculinos profundos se seguiram, o frágil consolo a que ela se agarrava se estilhaçou em mil pedaços.
Três anos atrás, após o acidente que deixou Leonardo em coma, Helena se dedicou a cuidar dele com devoção, ignorando os deboches dos outros, apenas porque ele a salvara uma vez. Na superfície, ela cuidava dele, mas secretamente, o tratou com sua excelente habilidade médica, que o trouxe de volta da morte. Ela se lembrava de sua promessa de amá-la para sempre.
Ela havia sacrificado tudo por ele. E o que recebera em troca? Tudo parecia uma piada cruel.
Ela estava pronta para fugir quando ouviu as palavras do outro lado da porta. "Leonardo, hoje é seu aniversário de casamento", a mulher ronronou. "Não é ruim você estar aqui comigo? E se ela descobrir..."
"Não se preocupe, Clara. Meu coração só tem espaço para você. Quanto à Helena, ela é apenas um tapa-buraco. Eu nunca a toquei!"
As palavras a atingiram como um punhal. Helena não aguentava mais. Com as mãos trêmulas, ela abriu a porta com um estrondo. "Leonardo, o que eu fiz de errado? Por que você me enganou?"
A indiferença dele foi como um tapa na cara. Ele nem ia mais fingir? "Se eu não tivesse vindo, por quanto tempo você planejava continuar mentindo para mim?"
A mulher ao lado dele, Clara Moraes, a amiga de infância de Leonardo, tentou intervir. Mas Helena ignorou-a. "Se você não queria ficar comigo, poderia ter apenas dito. Por que no nosso aniversário?"
O desdém de Leonardo a cortou como gelo. "Humph, tudo bem! Vamos ser claros. Eu quero o divórcio. O lugar de Sra. Almeida sempre deveria ter sido da Clara."
Encontrando seu olhar frio, Helena sentiu seu coração se contorcer, mas sua voz permaneceu calma. "Tudo bem, divórcio então. Mas eu quero metade dos bens do nosso casamento. Nem um centavo a menos."
A expressão deles vacilou. A órfã sem nada exigindo metade da fortuna dos Almeida? Que absurdo! Clara tentou argumentar, chamando-a de gananciosa, mas Helena foi implacável. "Uma amante não tem o direito de me dar lição de moral. E para que fique claro, não estou pedindo permissão, estou fazendo uma declaração. E acredite, se isso se tornar público, não será a minha reputação que será arruinada."
Suas palavras silenciaram o par. Ela se virou e saiu, ligando para um número que não usava há anos. "Tiago? Pode vir me buscar?"
Em dez minutos, vários carros de luxo chegaram. Tiago Lima, seu braço direito, saiu de um deles. "Helena, o que aconteceu? Por que está chorando?"
Ela enxugou as lágrimas. "Não é nada. Apenas decidi me divorciar daquele canalha."
Tiago congelou, e então um largo sorriso se espalhou por seu rosto. "Isso é fantástico, Helena! Você finalmente abriu os olhos! Bem-vinda de volta!"
Meia hora depois, Tiago serviu um prato de macarrão. "Aquele desgraçado do Leonardo! Se não fosse por você..."
"Chega", Helena interrompeu. "Não quero mais falar sobre ele."
Tiago mudou de assunto. "A propósito, durante os três anos em que você esteve afastada, as pessoas estavam enlouquecendo para te encontrar. Vai voltar à ativa?"
Helena respondeu com firmeza: "Espalhe a notícia. É hora da renomada curandeira, Garça, retornar."
Na manhã seguinte, sua sogra, Beatriz Almeida, ligou aos berros. "Sua ingrata, onde você se meteu? Volte aqui e faça o serviço de casa!"
"Leonardo e eu vamos nos divorciar. Não tenho mais nenhuma obrigação com sua família."
Helena foi até a mansão dos Almeida para pegar seus pertences. Lá, encontrou Beatriz e a cunhada, Verônica, que a receberam com insultos. "Olha só quem apareceu!", disse Verônica, acusando-a de ser uma mulher estéril e inútil.
Helena quase riu da audácia delas. Ela jogou um laudo médico antigo no colo de Verônica. "Leonardo nunca me tocou. Eu não posso ter um filho sozinha!"
Verônica congelou ao ler a palavra "impotente" no laudo. Mas Beatriz não se abalou. "Se ele pode ficar com a Clara, isso prova que o problema é você."
A discussão esquentou, até Verônica cuspir as palavras: "Se você não tivesse se metido, eles estariam juntos. Helena, você deve isso à Clara. Você é a outra aqui!"
Helena riu e tirou a petição de divórcio da bolsa. "Vejam isto? Estou determinada a me divorciar. Peçam para o Leonardo se preparar para ir ao fórum. Então, ele estará livre."
Quando Leonardo chegou, a mãe e a irmã o encheram de reclamações sobre Helena, dizendo que ela queria extorquir a família.
Leonardo as interrompeu. O Grupo Almeida estava em um momento crucial e não podia arcar com um escândalo. Nesse momento, seu telefone tocou. "O que você disse? Tem uma pista sobre a Garça? Continue investigando. Custe o que custar, preciso da ajuda dela!"
Naquela noite, no Clube Ônix, Tiago e seus homens celebravam o retorno de Helena. "Ouvi dizer que o Grupo Almeida ofereceu um milhão de reais pela Garça! Imagine a cara do Leonardo se ele soubesse!"
Irritada com as interrupções de estranhos, Helena puxou Tiago para a pista de dança. Ela se soltou, movendo-se com uma graça e poder que cativaram todos ao redor. Sua presença magnética era hipnotizante.
Na entrada da boate, Leonardo estava paralisado. Ele viera com Verônica e Clara, e nunca imaginou encontrar Helena ali. A mulher geralmente apagada tinha um lado tão inesperadamente cativante?
"Ha, a Helena nem se divorciou e já está se exibindo!", Verônica cuspiu, pronta para armar uma cena.
"Chega!", Leonardo a segurou. "Quer expor nossos problemas para todos? Onde está sua classe?"
Enquanto isso, um homem bêbado e desagradável, Fábio Souza, filho do dono da boate, assediou Helena. Ela o repeliu com uma resposta afiada, mas ele se tornou agressivo.
Leonardo quis intervir, mas Clara o deteve, alertando sobre o risco de um escândalo. Nesse momento, Tiago se interpôs, apresentando-se como vice-presidente do poderoso Grupo Vanguarda. A revelação chocou a todos, especialmente Leonardo, que sentiu uma pontada de ciúme.
Fábio, humilhado, dobrou as ameaças vulgares. "Você vai implorar na cama quando eu terminar--"
*Tap!* A mão de Helena atingiu o rosto dele com um tapa sonoro. Ele ordenou que os seguranças a pegassem.
Antes que uma briga pudesse começar, um estrondo ecoou na entrada. "É um tiro!", alguém gritou. O pânico se instalou, mas uma voz autoritária trovejou: "O Coronel está presente! Cessem a desordem imediatamente e fiquem em silêncio!"
Dezenas de soldados uniformizados entraram, formando um corredor. Por ele, passou o Coronel Rogério Almeida, o célebre e poderoso chefe da família. Em seu ombro, uma medalha de sete estrelas, um símbolo de autoridade inigualável.
Todos no bar se curvaram em reverência. Rogério ordenou que levassem Fábio, que implorava por misericórdia em vão. Leonardo, nervoso, aproximou-se. "Tio Rogério, a que devemos a honra?"
Rogério o ignorou e foi direto a Tiago. "Ouvi dizer que você tem notícias sobre a Garça?" Tiago olhou para Helena, e o Coronel seguiu seu olhar. "Você tem os detalhes?", ele perguntou a ela. "Nós já nos encontramos antes, não é? Você é a esposa do Leonardo?"
"Sim", respondeu Helena, ignorando os gestos de Leonardo. "Mas já decidimos nos divorciar."
O Coronel arqueou a sobrancelha. Leonardo tentou minimizar a situação, mas Rogério o cortou com um tom gelado. "Eu me lembro que, após o seu acidente, Helena dedicou três anos para cuidar de você. Tal desdém é injustificado, especialmente enquanto você se diverte com outra mulher durante seu casamento."
Leonardo ficou sem palavras. A expressão de Rogério suavizou-se ao se virar para Helena. "Tenho um amigo próximo que está em coma. Diga o seu preço. Se você puder arranjar um encontro com a Garça, eu pagarei."
Helena ponderou brevemente. Embora relutante em aprofundar os laços com os Almeida, a oferta era tentadora.
"Cento e cinquenta milhões de reais", ela disse. "Se você concordar com essa quantia, eu farei a apresentação à Garça, embora não possa prometer a cooperação dela."